domingo, 28 de outubro de 2012

Numa tarde, como outra qualquer.

A saúde dela já não era como antes. Os médicos não sabiam dizer-me o que estava acontecendo, pois os diversos exames que ela fizera não mostravam problemas algum. Ela já estava muito debilitada, passava horas dentro do hospital que ficava cinco quadras de nosso pequeno apartamento no centro da cidade. Assim como ela, eu também sofria com sua dor, estava enlouquecendo em ver a mulher de minha vida neste estado, queria estar em seu lugar, queria que ela parasse de sofrer o mais rápido possível. 
Passei a dormir no hospital todas as noites, pedi afastamento no meu trabalho, na realidade minha vontade era de pedir demissão, mas quem pagaria por tantos remédios, e exames caríssimos ? Estávamos vivendo uma fase muito difícil, apenas queria que tudo acabasse bem, e o mais rápido possível. Já havia se passado um mês e nove dias que ela estava internada. 
No quadragésimo primeiro dia de sua internação, lembro-me que estava nevando muito, estava muito frio, as enfermeiras estavam colocando nos quartos e nos corredores enfeites natalinos. Não sabia mais as horas, muito menos o dia em que estávamos. Havia um calendário pregado na parede do quarto, mas a data ainda era do dia em que havíamos chegado lá. Isto não importava no momento.
No final da tarde, sua respiração estava muito fraca, ela já respirava com ajuda de aparelhos há alguns dias. Entrei no quarto e o monitor mostrava que seus batimentos cardíacos estavam abaixando cada vez mais. Corri a procura de um médico. As enfermeiras não me deixaram mais entrar no quarto, fiquei paralisado em frente a porta enquanto ouvia a movimentação lá dentro. Passou-se alguns minutos  e enquanto esperava sentado no chão já não ouvia mais nada. O médico saiu, e em minha direção veio me trazer a pior notícia que alguém poderia me dar, fiquei desamparado. Parte de minha vida acabava de desabar e eu não pude fazer nada para impedir.  

Já se passara três meses depois que ela se foi, levava flores sempre que podia em seu túmulo, rosas da montanha, sua predileta. Sintia falta de acordar ao lado dela no nosso apartamento que ainda estávamos pagando em 27 prestações, de tomarmos café da manhã juntos, de conversamos na cama perguntando um para o outro como passamos o dia. Sinto falta de vê-la se perfumando em frente a sua penteadeira, de vê-la sorrindo atoa, cantando e dançando enquanto cozinhava. Sinto falta até das vezes em que por descuido, ela queimava o arroz que preparava e então pedíamos uma pizza. 
Me lembro do dia em que a vi pela primeira vez na faculdade. Do dia em que fui conhecer seus pais e fiquei todo desajeitado. Do dia em que a pedi em casamento em público. Do dia em que dissemos no altar: "Na saúde e na doença, até que a morte nos separe". Agora vivo apenas de recordações, olho todos os dias nossa foto no porta-retrato, e o que me mantem em pé era a vontade que ela tinha de viver, me sinto na obrigação de seguir a vida pois era o que ela iria querer. 

"A vida é a perda lenta de tudo que amamos."

Ps: O vento soprou 04h12.

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